Ensino
Mais um ano de aperto financeiro na UFPel
Orçamento enxuto obrigará Reitoria a apostar em resolver questões que exijam menos recursos
Gabriel Huth -
A palavra de ordem para 2018 na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é economizar. O orçamento previsto, de R$ 710 milhões, é 2% maior que o de 2017. Mas, segundo o reitor Pedro Hallal, o aumento não corrige nem o índice da inflação. Com pouco dinheiro em caixa, a possibilidade de contingenciamento de recursos e a incerteza se toda a verba realmente virá, será preciso fazer um grande esforço para que as atividades da universidade não sejam prejudicadas.
Esse pensamento é o balizador do Planejamento de Gestão 2018 da instituição. O documento é composto por 30 pautas prioritárias que serão discutidas, apreciadas e postas em prática ao longo deste ano. Quase metade dos temas propostos não necessitam de grandes verbas para sair do papel. Nas palavras do reitor, o ano será de mais força de trabalho e menos dinheiro.
Mas é claro que outros tantos projetos precisam de recursos para serem executados. Alguns deles já têm verba garantida, como obras de acessibilidade e a retomada da construção da biblioteca do Campus Capão do Leão e do Bloco 3 do Hospital-Escola, que receberá o setor de Oncologia. Porém, as atividades que preveem destinação de bolsas podem esbarrar na questão econômica. O planejamento inclui seis metas, envolvendo programas de extensão e de auxílio estudantil. Ambos necessitam de transferência de recursos para obter sucesso.
Reivindicações antigas devem entrar na pauta em 2018. Uma delas é a melhoria do sinal de internet nos campi. Iniciada em 2017, a instalação de estrutura básica em salas de aula deve continuar neste ano. A equipe tática de segurança também está prevista para ser retomada nas próximas semanas. Demanda antiga dos estudantes do Campus Capão do Leão, o transporte de apoio da universidade irá se estender para o local.
Apesar das dificuldades econômicas, Pedro Hallal espera um ano melhor na UFPel. “O fato de ser ano eleitoral ajuda”, explica. O contingenciamento do orçamento visto no ano passado deve ser menor neste ano, também devido às eleições. Para conseguir fazer o máximo com pouco dinheiro, aposta em menos gastos na parte administrativa e mais investimento no ensino.
Conheça os principais pontos do Planejamento 2018
Formaturas institucionais
Os graduandos do segundo semestre de 2018 poderão aderir de forma voluntária à formatura institucional. A colação de grau será totalmente organizada e paga pela universidade. O processo está em fase adiantada de organização e deve ser enviado ao Conselho Superior em breve. Segundo o reitor, a intenção da UFPel é transformar a formatura em algo acessível a todos os alunos e tirar o estigma de glamour que ela possui atualmente. “A formação do aluno irá iniciar e terminar aqui”, enfatiza.
Portal UFPel Transparente
Promessa de campanha, a transparência ganhará destaque ao longo de 2018. O Portal UFPel Transparente é um trabalho da Pró-Reitoria de Gestão da Informação e Comunicação e está sendo construído desde o ano passado. Ele trará informações sobre a instituição, especialmente no que diz respeito aos investimentos. A singularidade do espaço será a interatividade. Além dos itens já dispostos no site, o usuário poderá solicitar algum dado e terá a resposta em pouco tempo.
Apesar de a maioria dos dados já estar disponível à população no Portal da Transparência e no Portal de Dados Abertos do Governo Federal, eles não são de fácil interpretação.
Quem faz a análise é o próprio reitor, afirmando que o objetivo do site é facilitar o acesso da comunidade à prestação de contas da universidade.
Implantação da Recop
A internet nos campi deve dar um salto em qualidade com a implantação da Rede Metropolitana de Pelotas (Rede Recop). Ela é a versão local da Redecomep nacional e consiste na instalação de infraestrutura de fibra óptica própria voltada às instituições Ensino Superior. Serão 55 quilômetros de passagem de cabo no total, contemplando os 14 prédios do Centro e do Porto, a Faculdade de Medicina, o Campus Capão do Leão, a Escola Superior de Educação Física e a Embrapa, além dos três prédios do IFSul (Reitoria e os campi Pelotas e Visconde da Graça).
Dentre os benefícios da nova rede, Pedro destaca a melhoria da comunicação dentro dos campi. “Uma universidade não pode ter internet instável”, afirma. As atividades de ensino e pesquisa também irão crescer em qualidade. A Recop deve, ainda, reduzir custos com conexões, aumentar sua velocidade e diminuir custos de ligações telefônicas através do projeto VoIP.
Aproveitar melhor os espaços existentes
No ano passado, a universidade conseguiu desalugar quatro prédios e está em vias de entregar mais um. Com isso, terá dez espaços alugados. Os gastos nesse setor chegam a R$ 425.868,15 mensais. Somente a nova Casa do Estudante, com capacidade para 300 moradores, tem um custo de R$ 108 mil por mês. A administração acredita que realocando espaços ociosos e distribuindo equitativamente os horários das aulas, o problema de espaço irá diminuir significativamente.
Segundo consta em documento que orienta o planejamento anual, a UFPel possui um patrimônio, em metros quadrados, suficiente para atender às demandas acadêmicas e administrativas. São as más condições dos prédios que exigem a locação de mais espaço para acomodar toda a estrutura da instituição. Nesse sentido, um plano de realocação da estrutura ociosa será realizado ao longo do ano.
Outro grande problema mencionado pelo reitor é a distribuição das aulas. Nos últimos meses a UFPel realizou um estudo e percebeu que há uma grande concentração de aulas na terça, na quarta e na quinta-feira. Já na segunda pela manhã e na sexta à noite são raras as disciplinas ministradas. Se a distribuição dos horários fosse igual entre os dias da semana, Pedro Hallal afirma que gastos com energia elétrica e funcionários terceirizados seriam reduzidos. O problema de espaço também seria parcialmente resolvido.
Como solução, Hallal irá cobrar das unidades acadêmicas a divisão igualitária das aulas. “Isso é fazer mau uso do dinheiro público para manter a comodidade de alguns professores”, denuncia. Comprometeu-se, ainda, a manter a problemática longe dos campi durante a sua gestão. “Nem que, para isso, os professores precisem fazer um rodízio entre os horários”, propõe.
Obras de acessibilidade
No ano passado a UFPel elaborou um plano plurianual de acessibilidade, contemplado com R$ 12 milhões. A estratégia foi dividida em três fases e a primeira deve iniciar já neste ano. Para o Campus Capão do Leão está prevista a implantação de três elevadores - um no prédio do Instituto de Física e Matemática, outro na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem) e o último na Veterinária. A reforma do auditório da Faem também deve entrar neste orçamento e iniciará já nos primeiros meses do ano, assim que encerrar o calendário de formaturas. No Campus Anglo serão instaladas escadas de emergência, obedecendo ao Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). As obras estão em fase licitatória e já têm recursos empenhados.
Kit salas de aula
Depois de instalar aproximadamente 300 aparelhos de ar-condicionado, a administração quer implementar kits básicos nas salas de aula. Em algumas delas faltam lousa, canetas, projetores e até carteiras. Em outras, os equipamentos existentes estão estragados. O objetivo é dar ao professor condições de ministrar as aulas. Quanto ao recurso, Hallal destaca que disponibilizará mais orçamento de capital às unidades acadêmicas. Este dinheiro pode ser investido na compra dos equipamentos.
Reformulação dos concursos de servidores
A discussão sobre a forma de ingresso de servidores entrará em pauta ao longo do ano. No caso dos docentes, Pedro Hallal é enfático: “O concurso privilegia a contratação de pesquisadores e não de professores”. Ele reconhece a importância da pesquisa dentro da universidade, mas afirma que deve haver um equilíbrio na hora de avaliar a experiência do candidato nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Outro ponto que deve ser modificado é a prova de títulos. A administração quer definir um “teto” para as experiências apresentadas pelos candidatos. Dar anonimato à prova escrita também está nos planos.
Já para os técnico-administrativos, a ideia é de que os concursos sejam mais específicos. “Queremos que estes servidores tenham relação com a atividade a ser desempenhada”, ressalta Hallal. Para isso, deve ser proposta uma maior participação das unidades acadêmicas na elaboração das provas.
Programa de permanência discente com foco na reversão dos índices de evasão e de reprovação
Com o objetivo de manter o aluno na universidade e evitar a retenção, a UFPel pretende concentrar esforços - e recursos - nas disciplinas com maiores índices de reprovação. Estratégias que já vêm dando certo, como programas de educação tutorial e monitorias, serão incentivadas através do aumento do número de bolsas. A ideia da proposta é utilizar o próprio aluno para auxiliar outros estudantes.
Dar condições para o aluno frequentar as aulas é outro ponto essencial. “Não tenho dúvidas de que a assistência estudantil é muito importante”, ressalta o reitor. Ele também pretende dar continuidade aos investimentos na área de alimentação, transporte e moradia. Como exemplo, cita a nova Casa do Estudante, a extensão da linha do transporte de apoio até o Campus Capão do Leão e a construção de um Restaurante Universitário no Campus Anglo, desafogando os dois RUs do Centro.
Escolas parceiras
A exemplo das escolas-modelo vinculadas a instituições de Ensino Superior existentes em todo o país, a UFPel pretende fechar parcerias com colégios de Pelotas e Capão do Leão. Na Princesa do Sul, a escolhida foi a escola municipal Jornalista Deogar Soares, no Dunas. Nela será implementado o turno integral de estudos.
O papel da UFPel na parceria será participar da organização pedagógica das aulas. Desse modo, tanto a universidade quanto a escola serão beneficiados. De um lado, há a possibilidade de vivenciar na prática os conhecimentos adquiridos. De outro, o auxílio de professores universitários renomados. Para Hallal, a união é concretização de um “mundo ideal”, conectando a universidade ao dia a dia da escola.
Processos seletivos de ingresso de estudantes
A principal mudança proposta é o aumento das vagas destinadas a alunos de escolas públicas. “Por que 50% das vagas são para escolas públicas se a proporção desses alunos é muito maior?”, questiona o reitor. De acordo com o Censo de 2016, os alunos das escolas públicas representam quase 90% do total de estudantes da rede. A consequência disso, segundo Hallal, é a grande quantidade de alunos que cursaram toda a educação básica na rede pública precisando recorrer a faculdades particulares. A discussão acerca do tema se estenderá ao longo do ano e a modificação, se aprovada, deve entrar em vigor no ano que vem.
Semelhante ao que foi feito para estudantes indígenas e quilombolas, a UFPel quer criar um processo seletivo exclusivo para refugiados. A iniciativa faz parte das estratégias do Pacto Pelotas pela Paz. As vagas destinadas a esse público serão as ociosas da UFPel, decorrentes de evasão. A expectativa é de que haja apenas uma vaga por curso. O edital deve sair ainda este ano, para ingresso no primeiro semestre.
Áreas de convivência e compartilhamento de bicicletas
Em parceria com a prefeitura, a instituição pretende implantar um sistema de compartilhamento de bicicletas. O transporte interligaria todos os campi do Centro e do Porto. Diferentemente do que ocorre em outras cidades, a intenção é de que a estrutura seja de propriedade do Poder Público e não relacionada a instituições privadas. De acordo com Pedro Hallal, os estudantes da UFPel deverão ter passe livre para usar o meio de transporte.
Hospital-Escola
A reforma da Laneira é uma das prioridades da UFPel, que deseja transferir as estruturas administrativas do HE para o local. Ainda na temática obras, o Bloco 3 do novo hospital deve ser concluído entre o final deste ano e o início do próximo. Lá funcionará o serviço de Oncologia. A estrutura, que está com a construção paralisada, fica localizada próximo à Estação Rodoviária de Pelotas.
Já o sonho do hospital próprio e a consequente construção dos blocos 1 e 2 devem demorar para sair do papel e ainda não têm recursos garantidos. O primeiro passo é fazer o projeto do HE, que possui apenas um pré-projeto. A ideia inicial de ter uma grande estrutura, com capacidade para centenas de leitos, provavelmente será alterada. “A UFPel não tem capacidade de bancar um hospital grande”, resume Hallal. Todo o custeio da estrutura ficará a cargo da universidade, portanto o que preocupa não é a verba para construir o prédio, mas sim para mantê-lo.
A desvinculação entre o HE e a Fundação de Apoio Universitário (FAU) é outra meta da gestão. Atualmente, quem administra a maior parte dos recursos do hospital é a FAU. A função deveria ser desempenhada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que hoje gerencia apenas os trabalhadores. Desse modo, a fundação assumiria seu papel de apoio à UFPel e não de administradora do Hospital-Escola.
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